A EDUCAÇÃO CRISTÃ COMO FATOR INIBIDOR DO USO DE DROGAS POR ADOLESCENTES E JOVENS



A EDUCAÇÃO CRISTÃ COMO FATOR INIBIDOR DO USO DE DROGAS POR ADOLESCENTES E JOVENS



“Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos anos não se desviará deles”. Provérbios 22:6 

"Assim também ocorre com a palavra que sai da minha boca: Ela não voltará para mim vazia, mas fará o que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei”. Isaías 55:11 



  No ano de 2011 tive o privilégio de fazer o curso de validação em Teologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie, e começar uma pós no Instituto Andrew Jumper em “Revitalização e Multiplicação de Igrejas”. Das minhas idas e vindas  do hotel a faculdade, pude observar com muita tristeza, nos bares ao derredor do campus, um número expressivo de adolescentes e jovens, que já no inicio da manhã estavam assentados as mesas destes bares, bebendo muito, todo tipo de bebidas, destiladas ou não, e fazendo uso de entorpecentes, principalmente a maconha que deixa um cheiro peculiar e  terrível no ar.

Quantas vezes em espirito de oração eu intercedi por estes guris. Ao mesmo tempo lembrei-me de uma pesquisa já um pouco mais antiga, (1992), feita com princípios da metodologia cientifica pela UNICAMP (Universidade de Campinas-SP), e disponibilizada em sites da internet.

Essa pesquisa, transformada em artigo, cujo tema era “Religião e uso de drogas por adolescentes”, traz informações conclusivas muito interessantes. Os pesquisadores, após registrarem questionários de entrevistas com mais de 2.000 alunos daquele campus universitário, chegaram à conclusão, em suma, de que jovens que tiveram algum tipo de educação religiosa na infância, seja qual denominação cristã for, desenvolveram uma capacidade maior inibidora para o uso de drogas licitas (bebidas alcoólicas e tabaco) e ilícitas (maconha, crack, cocaína, anfetaminas, etc.).

Isso me fez lembrar o Reformador João Calvino, que elaborou seu catecismo “Breve Instrução Religiosa”, para que no culto domestico os pais pudessem transmitir valores religiosos cristãos e ensinar a sã doutrina a seus filhos. Calvino acreditava que mesmo que as crianças catequizadas ao atingirem a fase adulta não se tornassem cristãs professas, pelo menos elas teriam uma grande chance de serem boas cidadãs. Mais, tarde, a Assembleia de Westminster desenvolveu documentos confessionais, adotados pelas igrejas reformadas espalhadas pelo mundo todo, incluindo a Igreja Presbiteriana do Brasil. A Confissão de Fé e os Catecismos, Breve e Maior, são tomados como documentos que expressam fielmente a exposição das doutrinas encontradas na Bíblia. Evidentemente, que a Escritura é a única regra de fé e prática para nós, mas os símbolos confessionais são colunas que sustentam nossa prática confessional.

O que acredito ser interessante nesta reflexão é a constatação por outros meios, não religiosos, tais como as ciências sociais, a antropologia e a psicologia, de que a introjeção de valores morais cristãos traz benefícios incalculáveis para formação do caráter de uma pessoa.

Abaixo transcrevo alguns trechos deste artigo da UNICAMP[1]:

Em nosso país, o mais amplo estudo que inclui o tema religião e uso de drogas em adolescentes foi realizado em 1992. Este estudo incluiu 16.117 estudantes de primeiro e segundo graus, de quinze cidades brasileiras, mostrando uma correlação negativa fraca, mas constante, entre consumo de álcool e drogas e frequência de atividades religiosas. Os jovens praticantes de atividades religiosas tendiam, dessa forma, a um menor uso de álcool e drogas.


Drogas estudadas: As drogas estudadas foram: álcool, tabaco, medicamentos, maconha, solventes, cocaína e ecstasy.

Aspectos éticos: Este trabalho foi aprovado na sua íntegra pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP e foi obtido o consentimento livre e informado das Delegacias de Ensino, dos Diretores e Associação de Pais das escolas envolvidas. Foi explicitamente dito a todos os estudantes, antes da aplicação do questionário, que eles tinham pleno direito em não participar da pesquisa e que isso não implicaria em qualquer forma de desaprovação ou repreensão por tal recusa. A aplicação foi coletiva, em sala de aula, sem a presença do professor. A garantia e a certeza do anonimato foram enfatizadas no início das entrevistas.


Discussão: Os dados do presente trabalho reforçam claramente a evidência demonstrada pela literatura internacional e nacional, a saber: várias dimensões da religiosidade são possivelmente fatores relevantes na modulação do uso e abuso de álcool e drogas por diversos grupos populacionais, particularmente adolescentes e jovens.

Das quatro variáveis estudadas, a mais recorrente na análise multivariada, associada a um possível efeito inibidor do uso de álcool e drogas, foi –“ter tido uma educação religiosa (ou muito religiosa) na infância”. [grifo meu]

Das denominações religiosas presentes em nosso meio, os protestantes históricos e pentecostais apresentaram, relativamente, uma maior frequência de não usuários e os católicos e espíritas uma maior frequência (também relativa) de usuários pesados. Isto é compatível com a literatura, 3,4,16,25 na qual verifica-se que as denominações mais conservadoras tendem a apresentar menos usuários de álcool e drogas entre os seus “Membros”.

No presente estudo, na análise multivariada, chamou a atenção que a variável “ter tido uma educação religiosa na infância” foi a que mais recorrentemente relacionou-se a um menor uso no mês ou uso pesado das diferentes drogas. Tal achado é intrigante, posto que entre os dois fenômenos (uso de drogas na adolescência e educação religiosa na infância) há uma considerável distância temporal.

Verificaram também que os efeitos da socialização na infância com pais religiosos mantêm-se durante o período adulto.

No caso do nosso estudo, ter tido uma educação religiosa na infância pode implicar desde ter tido uma educação com mais regras e normas morais e comportamentais claras, ter tido um ambiente sócio familiar mais estruturado, assim como ter internalizado
valores que dão significado à vida.


Também apoiando esta interpretação, os dados da presente pesquisa, assim como outros estudos, 16,39 revelam que utilizam significativamente menos álcool e drogas os grupos de estudantes protestantes pertencentes a denominações mais conservadoras.


Os autores puderam identificar que as atitudes morais de um indivíduo criado por pais religiosos são claramente mais conservadoras do que as daqueles criados por pais não religiosos. Verificaram também que os efeitos da socialização na infância com pais religiosos mantêm-se durante o período adulto. Finalmente, verificaram que a influência da religiosidade sobre atitudes morais é mais intensa nos países menos secularizados. Segundo os autores, nos países nos quais a religiosidade era, de forma geral, mais importante na vida social, a religiosidade individual e dos pais tendeu a nortear mais marcadamente as atitudes morais e padrões comportamentais dos indivíduos.


Em conclusão, gostaríamos de lembrar que, ao se aderir a uma denominação religiosa e envolver-se com padrões de religiosidade, adere-se a um conjunto de valores, símbolos, comportamentos e práticas sociais, enfim, adere-se a um amplo e complex ethos religioso que inclui, entre outras coisas, a aceitação ou recusa ao uso de álcool e drogas.



O que estes pesquisadores descobriram depois de avaliarem centenas de questionários, compararem os dados levantados, e refletirem cientificamente os resultados da pesquisa, nós cristãos reformados, que amamos a Bíblia e valorizamos nossas Escolas Bíblicas Dominicais, nossos cultos de doutrina, e a boa tradição do ensino bíblico de pais para filhos, já sabíamos.  Sabíamos porque a própria Bíblia assim, claramente nos ensina.

Soli Deo Gloria
Rev. Afonso Celso de Oliveira


[1] DALGALARRONDO , Paulo; SOLDERA,  Meire Aparecida;  FILHO, Heleno Rodrigues Corrêa; SILVA, Cleide Aparecida M. Religião e uso de drogas por adolescents.  São Paulo: Revista Brasileira de  Psiquiatria,  2004; N.26 (2) pp: 82-90. Fonte:  < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462004000200004 >, in 15/03/2012.

Comentários

  1. Pastor

    Gosto de sua preocupação com este fato, quero perguntar algumas coisas. O Sr. incentiva os filhos de sua igreja a estudar? os Pais de sua igreja estudam e trabalham tambem? sâo eles que tem tempo de fazer o culto domestico? ou eles estão estudando ou trabalhando a noite, vejo aqui em São Paulo um discurso de pulpito muito bonito, mas encontro os pastores, presbiteros e diaconos colocando seus filhos no Ingles, Espanhol, natação ,musica, judô, balé etc..., e depois ficam cobrando dos outros e dos seus filhos a presença na igreja, sendo que os mesmos não dão exemplo sequer enchem-se de tarefas, esgotam o tempo livre onde ninguem sem tempo de se socializar com quem quer que seja e muitas vezes com a propria familia , não é raro encontrar filhos de evangelicos nessas turmas nos bares , pois fui professor da rede estadual e me deparava constantemente com eles e indagando-os a resposta era quase a mesma" meu pai só quer saber do trabalho e da igreja" como tambem com os meus filhos errei do mesmo jeito sem ter ninguem para me falar, ei e a sua familia cadê??? .A tal ausencia dos pais nos lares principalmente para o culto domestico, esse mundo consumista nos levou a correr atras do ouro e do conhecimento, veja ai em sua igreja como andam as coisas. Dizem por ai que o homem tem tres preocupações basica na vida, 1- Que Deus vou servir?,2- qual será minha profissão? 3 com quem vou me casar? , e nós os pais pensando nisso,vamos logo na idéia que " Meus filhos precisam ficar preparados para enfrentar o mundo" que mundo ? o financeiro é claro, pois é para la que vai todo o investimento, ou estou errado? Calvino em seu tempo nunca imaginaria o ano 2012 onde os "evangelicos e suas igrejas estariam e quais as suas preocupações , por isso para mim esse pensamento calvinista precisa ser repensado não na formula, mas na execução. Tenho conceitos formulados que aprendi nos meus erros e isso é ruim,pois trouxe consequencias que carrego comigo, mas gostaria de deixar para os demais com a seguinte pergunta " O que queremos para os nossos filhos? Bôa condição ou Bôa santificação? Não precisa postar esse comentário mas me escreva por favor o que pensa a respeito dessa dicotomia do evangelho pregado e do evangelho vivido. Só estou escrevendo porque gosto do que pensas e escreve. abraços - Israel

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  2. Respondendo, ou tentando pelo menos...

    Na igreja onde fui pastor titular empregavamos varias estratégias habituais e criativas para provocar o interesse das crianças, adolescentes e juventude a cultivarem seu estilo próprio de estudar as coisas espirituais e desenvolver uma cosmovisão cristã.

    Na igreja que sou pastor auxiliar, isso é feito de várias formas. Existe um excelente departamento de educação cristã preocupada com o ensino aos menores. Existe um esforço muito grande por parte do pastor titular, de restaurar o culto doméstico. Ano passado, e neste ano a igreja adquiriu milhares de exemplares do devocionário escrito pelo Rev. Hernandes.

    Existe ainda um projeto chamado, "Filhos do Pacto", desenvolvido pelo pastor das crianças, Rev. Edson Costa, em parceria com Rev. Ludgero, que é distribuido a familia de infantes para que os pais tenham um roteiro para estudar a preparação de seus filhinhos para serem levados a Pública Profissão de fé. Este recurso é compartilhado entre pais, filhos e pastores que auxiliam esse processo ajudando os pais.

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  3. Continuando... suas observações são pertinentes e demonstram que o irmão preocupa-se com tema tão relevante.

    Acredito ainda que a melhor forma de pais transmitirem a seus filhos valores éticos-cristãos, principios da Palavra de Deus, e pelo exemplo, amizade e boa convivência diária, dentro e fora do lar. Esses momentos marcam mais do que qualquer estudo programático, por mais ricos e necessários que eles sejam.

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