RESENHA DE OBRA


Fazendo a Igreja Crescer – O movimento de Crescimento de Igrejas.
Resenha de Obra

Por Afonso Celso de Oliveira

SMITH, William H.; NETO, Francisco Solano Portela. Fazendo a Igreja Crescer – O movimento de Crescimento de Igrejas. São Paulo: Editora Os Puritanos, 1997. 111 pp.
         Irmãos, quero que saibam que o evangelho por mim anunciado não é de origem humana. Gálatas 1:11

Mas ainda que nós ou um anjo do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado! Galátas 1. 8

Esta obra, dividida em três partes, sendo a primeira de autoria do Rev. William Smith, mestre em teologia pelo Reformed Theological Seminary, traduzida pelo Rev. Josafá Vasconcelos. As duas ultimas partes do livro são de autoria do Pb Francisco Solano Portela Neto, com formação universitária em área das ciências exatas, e mestrado em teologia sistemática pelo Biblical Theological Seminary, entre outras formações acadêmicas. É tradutor de livros e autor de vários artigos publicados na imprensa religiosa e secular.
A primeira parte do livro, dividido em sete capítulos, de autoria de Smith, é produto de uma série de conferencias que o autor desenvolveu no encontro de líderes da conceituada editora inglesa: Banner of Truth, realizada em Memphis, Tennessee, EUA, sobre o Movimento de Crescimento de Igrejas (1994).
No capitulo 1, “Deus quer o Crescimento de sua Igreja”, Smith inicia sua abordagem refletindo os relatos bíblicos de Lucas no livro de Atos que demonstra o crescimento exponencial e abrangente ao mundo do primeiro século ocorrido na igreja primitiva. Ele resume este fato citando a passagem bíblica: “...por todo mundo este evangelho tem frutificado e crescido” (Cf. Cl 1.6).
No Capitulo 2, “A História do Movimento de Crescimento de Igrejas”, o autor faz um estudo histórico sobre as origens e motivações iniciais que geraram este movimento. O personagem em destaque é Donald McGravan, e o cenário em que o embrião deste movimento se desenvolve é  a Escola de Missões Mundiais, ligada ao Instituto de Crescimento de Igrejas do Seminário Teológico Fuller (o mesmo onde surgiu e se destacou a figura do Dr. Peter Wagner). McGravan, de origem presbiteriana, foi conferencista no Seminário de Westminster, e teve uma série de preleções lançadas pela Companhia de Publicações Presbiterianas e Reformadas (Reformed and Presbyterian Publishing Co.), em forma de livro: Evangelismo Efetivo – Um mandato Teológico, 1988.
Mais tarde, Peter Wagner se uniria a McGravan para engrossar o ensino deste movimento de crescimento de igrejas, matéria lecionada no Seminário Fuller. Historicamente este movimento começa a despontar no ano de 1934, quando McGravan visitou a Índia e fez observações sobre o trabalho de plantio e desenvolvimento de igrejas naquele país. Ainda não era um movimento em si, mas podemos considerar que estas primeiras observações de McGravan o levou a refletir e despertar sobre o tema do crescimento de igrejas.
No capitulo 3, “Características do Movimento: Primeiras Preocupações”, o autor destaca aquilo que ele considera marcas predominantes no movimento. O papel da grande Comissão; o Ecumenismo abrangente, cujo princípio de “unidade” é um compromisso pragmático de alcançar os perdidos por todos os meios possíveis, independente da forma doutrinaria, da cultura e estilos denominacionais antagônicos e incompatíveis. Verifica o uso das Ciências Sociais, que é traduzido por um estudo sociológico das culturas que se pretende alcançar e a adequação da mensagem do evangelho a estas culturas de forma a facilitar sua compreensão e potencializar o poder de persuasão racional desta mensagem. Ele encerra este capitulo abordando uma crítica que é freqüentemente  imposta a este método de dependência das ciências sociais, que é a falta de fé na suficiência das  Escrituras como único meio de pregação do evangelho e de transformação espiritual do convertido.
No capitulo 4, “A Ênfase do Movimento à Cultura”, o autor liga uma ponte do último ponto abordado, o uso das ciências sociais no processo de transmissão do evangelho, para uma conclusão obvia em que o “movimento” tende a dar ênfase exagerada a questão da adequação cultural do processo de crescimento da igreja. O elemento transcultural é visto por McGrath como de suma importância para se compreender a eficácia da pregação evangélica em culturas diferentes. O conceito de “unidade homogênea” é visto neste capitulo, cujo ponto é que pessoas são alcançadas, preferencialmente, por outras semelhantes a elas.
Em seguida, no quinto capitulo, “Propósitos, Estatísticas, Resultados e Missões”, Smith passa a considerar, à luz do Movimento de Crescimento de Igrejas, a metodologia pragmática explicitamente assumida pelos postulados do movimento.
Estatísticas é o ponto que norteia a forma como se deve administrar a obra missionária para o movimento de crescimento de igrejas. Uma verdadeira “numerolatria” toma conta e inspira o pragmatismo adotado abertamente pelos líderes que aplicam os princípios postulados no movimento.

No capitulo 6, “Pontos Positivos a Destacar”, depois do autor considerar todos os elementos históricos, metodológicos e teológicos do movimento de crescimento de igreja, ele destaca os pontos positivos observados em sua análise. Usa uma metáfora conhecida de "jogar a água da bacia fora sem jogar o bebê". Os pontos positivos que Smith destaca são: (1) O compromisso com a Evangelização (a preocupação sincera do movimento em proclamar o Evangelho); (2) O compromisso com o discipulado (não somente a capacidade de alguém professar racionalmente a fé, mas demonstrar através do ensino e acompanhamento pastoral que se tornou de fato um crente no Senhor Jesus); 3) Comprometimento com a igreja (a valorização da comunhão dos santos na igreja do Senhor). Por fim, o autor formula perguntas desafiadoras, entre elas se estamos de fato almejando ardentemente o crescimento numérico de nossas igrejas.
No sétimo e ultimo capitulo, o autor finaliza seu discurso (1ª parte do livro) com observações criticas sobre o movimento de crescimento de igrejas. Ele destaca em sua análise (1) a falta de uma boa hermenêutica, precisão teológica e base teológica; (2) a supervalorização do evangelismo em detrimento às demais tarefas da igreja (que é uma ênfase muito comum nos meios arminianos); 3) O perigo da perda do próprio Evangelho (a negociação dos princípios e valores do Evangelho para seu acondicionamento a cultura em que se prega); 4) O pragmatismo manipulativo (conseqüência natural do terceiro ponto); 5) A desmoralização dos pastores fieis (uma vez que a qualidade da obra é condicionada exclusivamente a taxa de seu crescimento quantitativo, conclui-se pelo movimento que se a igreja não cresce o problema é o líder ou pastor, que nem sempre condiz com a realidade dos fatos). 6) A aceitação da Teologia e da prática carismática (que é a popularização da igreja e sua práxis a um evangelho de sinais e prodígios e abertura litúrgica “ao gosto do freguês”).

PARTE II – PLANEJANDO OS RUMOS DA IGREJA: PONTOS POSITIVOS E CRÍTICA DE POSIÇÕES CONTEMPORÂNEAS (F. Solano Portela Neto).
O autor da segunda e terceira parte desta obra, Pb. Solano Portela, destaca que:

 “O medo, justificado, da ‘ortodoxia morta’ resultou no ‘vale tudo  espiritual’ onde qualquer ação, desde que ‘cristianizada’ com palavras de ordem bíblicas, são admissíveis, não apenas na liturgia, como também no encaminhamento dos assuntos e das várias tarefas da igreja” (P. 69).
De fato, nós protestantes históricos, precisamos assumir boa parte da responsabilidade pelo caos teológico e eclesiológico instalado pelo movimento de crescimento de igrejas, porque deixamos um “vácuo” que foi ocupado por este, e outros movimento modernos de igrejas carismáticas e pragmáticas.

Mas ainda resta esperança. E a proposta desta segunda parte é elencar uma reflexão e apontar caminhos para um crescimento seguro, saudável e sustentável de nossas igrejas cristãs. O planejamento precisa ser visto como um mandamento bíblico (capitulo 1), sob a soberania de Deus, que em matéria de economia e sabedoria é a fonte límpida de onde podemos beber, em sua Palavra. O planejamento que harmoniza com os decretos de Deus visa estrategizar ações e não resultados. Planejar não é “pragmatizar”, mas, depender do Espírito Santo utilizando ferramentas que ele mesmo proveu para executar a tarefa evangelizadora e de transformação legada a igreja de Cristo.

Nesta caminhada em busca do planejamento é preciso prudência para evitar o que Solano chama no capitulo 2 de “armadilhas”. Idéias equivocadas que são “vendidas” facilmente e podem ser incorporadas ingenuamente se não houver bastante reflexão ético-teológica, tais como (1) considerar a igreja refém de uma abordagem cientifica e sociológica como meio de obter seus resultados, (2) considerar a igreja um empreendimento de negócios, e, portanto, administrá-la à luz das técnicas de mercado; (3) depreciar a teologia do pacto, considerando o crescimento biológico (o nascimento de filhos dos crentes) como de menor importância comparado a conversão de incrédulos; (4) O conceito equivocado do que seja a tarefa de evangelizar, considerar, por exemplo, que o investimento com o sustento pastoral não pode ser contado como investimento de evangelização, desprezando assim o poder do púlpito e do ensino de qualidade como ferramentas evangelizadoras; (5) A interpretação errada do que vem a ser “igreja reformada sempre reformando”, atribuindo a Reforma em si, inovações teológicas e litúrgicas, usando isto como pretexto para abertura da igreja para uma prática e teologia estranha, travestida de modernidade.

O autor conclui esta segunda parte aplicando o texto de Lucas em Atos 2.47, de que é da esfera exclusiva da soberania de Deus o crescimento da igreja. O que não inválida de forma alguma o esforço que a igreja tem que realizar para implantar o programa redentivo, dentro da esfera da responsabilidade humana. Tarefas distintas (a de Deus e a da Igreja), ao mesmo tempo complementares.

PARTE III – EXPOSIÇÕES SOBRE EVANGELIZAÇÃO, MÉTODOS E CONTEÚDO.  F. Solano Portela Neto
Nesta última parte do livro, o autor, Pb. Solano Portela faz um estudo exegético de quatro trechos das Escrituras, de onde extrai princípios e métodos para uma evangelização bíblica, saudável e fidedigna à Palavra de Deus. São elas (2 Co 4.1-7); (2 Tm 2.1-3); (Fp 1.12-18) e (Gl1.1-10).
Na exposição do texto de 2 Coríntios 4.1-7 o autor demonstra algumas realidades envolvidas no ministério e evangelização. “O trabalho cristão não ocorre sem problemas”. E “O que fazemos, perante a realidade da constante rejeição do Evangelho?”. Fica claro que para nós reformados a evangelização é teocêntrica e a salvação é obra exclusiva e sobrenatural da Trindade.
No texto de 2 Timóteo 1.1-3, Solano expõe a ética da evangelização cristã. O caráter idôneo que deve delinear o pregador do evangelho.

E, finalmente, no texto de Filipenses 1.12-18 e Gálatas 1.1-10, Solano enfatiza a obra do Espírito em fazer progredir o Evangelho, mesmo que homens utilizem do evangelho com motivações incorretas. Se o conteúdo for preservado, Deus em sua soberania utilizará dos meios que quiser para que sua Palavra alcance os eleitos. O que Paulo deixa claro em Gálatas é que o conteúdo do Evangelho, a mensagem da graça, jamais poderá ser substituído, dilapidado, acrescentado, sob qualquer pretexto pragmático ou metodológico que seja.

O livro é consistente, conciso e em linguagem simples pode ser lido por qualquer cristão, em especial aqueles que lidam diretamente com o ministério de evangelização e plantação de igrejas. Foi para mim muito edificante e acrescentou conhecimentos históricos e teológicos com respeito ao movimento de crescimento de igrejas, o recomendo com louvor.

Comentários

  1. Concordo com os pontos destacados. Realizar com tais princípios em um tempo como o nosso é difícil. O pastor é visto pior que um técnico de futebol (igreja de resultado, onde os membros não assumem responsabilidade igual, e , principalmente as lideranças). E assim por diante.

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