A DEPRESSÃO NOS PASTORES


AQUELE QUE CUIDA TAMBÉM PRECISA SER CUIDADO

Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti ó Deus, suspire a minha alma”. – Salmo 42.1

Pesquisas recentes vêm demonstrando que, entre as classes profissionais mais sujeitas ao estresse provocado por suas atividades, uma das que encabeçam a lista dos que mais sofrem é a dos pastores, mesmo considerando que estes não são propriamente “profissionais”, e sim vocacionados a prestar um serviço santo à Igreja de nosso Senhor. Perdem apenas para a classe dos professores e profissionais da saúde (enfermeiros, médicos e atendentes – principalmente os da rede pública).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) [1], a depressão atinge 121 milhões de pessoas ao redor do mundo e está entre as principais causas que contribuem para incapacitar um indivíduo. A OMS prevê que até o ano de 2020 a depressão passe a ser a segunda maior causa de incapacidade e perda de qualidade de vida.

O Dr. Pérsio Ribeiro Gomes de Deus, cristão, pianista, é Médico Psiquiatra e Docente da EST - Mackenzie (DEUS, 2010), e relata que “em nossa prática clínica como psiquiatra, temos atendido um número expressivo de pastores com quadros depressivos, como observado por outros autores (KOENIG, 2001; MOREIRA-ALMEIDA et al., 2006)”.

Mais alarmante ainda é a sua constatação ao citar que “Lotufo Neto (1977, p. 251) encontrou maior incidência de doenças mentais entre ministros protestantes se comparados à população geral, e os transtornos depressivos responderam por 16,4% das doenças mentais encontradas nos ministros protestantes”.

O Dr. Pérsio de Deus, co-autor do excelente livro “Eclipse da Alma” (GOMES; PAZINATO, MALTA; DEUS – 2010), escreveu artigo[2] sobre essa temática de “pastores e a depressão”, encontrado no site da Universidade Mackenzie:

Os dados de nossa pesquisa (DEUS, 2008) confirmam os achados desses outros pesquisadores. Dentre os 50 prontuários de pacientes cristãos portadores de depressão atendidos na referida pesquisa num período de seis meses, 13 pertenciam a pastores, representando 26% dos pacientes atendidos. Acreditamos que as respostas desses pacientes merecem uma atenção particular.

Dos 13 pastores, nove são presbiterianos, três são batistas, e um é da Assembleia de Deus. Essa porcentagem precisa ser considerada de forma cuidadosa, pois não espelha a incidência real de doença depressiva entre religiosos ou entre pastores. A explicação desse desvio ou artificialidade porcentual pode se dever ao fato de que há poucos psiquiatras cristãos em nosso meio, e essa pesquisa foi realizada por um psiquiatra cristão e presbiteriano.

Esclarecemos ainda que, em razão do tamanho reduzido da amostra, os resultados não permitem generalização, pois não refletem a porcentagem de religiosos protestantes em nosso país, devendo, portanto, ser compreendida como estudo de caso.

Indagados quanto ao seu conhecimento sobre a doença depressiva, obtinham-se informações de que o estado de doença por eles apresentada correspondia à doença depressiva, e somente três deles tinham informações a respeito.

Quanto às causas para seu adoecimento, dos nove pastores presbiterianos, cinco relacionaram sua doença ao estresse do exercício da vida pastoral, dois a problemas de relacionamento conjugal, e dois não sabiam a causa. Dos três pastores batistas, dois relacionaram as causas ao pecado e à falta de fé, e um não sabia a causa. O pastor assembleiano relacionou sua depressão à ação do demônio.

Um dado revelador e preocupante é que, dentre os pastores, dos nove presbiterianos, cinco referiram como causa da depressão o estresse ligado à atividade pastoral. As explicações desse estresse pastoral foram relacionadas aos seguintes fatores:

• problemas com instâncias da Igreja (compreendida como organização) por presbitérios e sínodos: falta de compreensão e apoio das referidas instâncias;
• problemas de relacionamento com as igrejas locais;
• uma queixa comum a todos foi a existência de problemas financeiros advindos da baixa remuneração profissional;
• problemas conjugais também foram significativos: três dos nove pastores presbiterianos não sabem a causa.
• mudanças constantes de campos de trabalho.


Aí cabem várias interrogações...

Por que aqueles que levam a Palavra da Cura estão doentes?
Pastores também precisam de cuidados pastorais?
Precisam cuidar de sua saúde com profissionais da saúde?
Por que o medo de consultar psiquiatras e psicólogos?


O pastor, líder carismático, ungido, investido da imagem do “homem de Deus” na comunidade, tem que estar sempre pronto e disponível para as atividades pastorais. Essa pronta disponibilidade atrelada à falta de um horário determinado para as atividades pastorais é apontada (UNISINOS, 2008) como uma das causas predisponentes a doenças. (DEUS, 2010)

A agenda de um Ministro do Evangelho revela, às vezes no mesmo dia, uma montanha russa de emoções contraditórias. “... sepultamento pela manhã, reunião de  liderança à tarde, casamento em final de tarde e culto à noite; ou seja, a vivência, num mesmo dia, da dor e do luto, o exercício da lógica e a preocupação, a celebração de momento de alegria, prédica e exortação; e atreladas a essas atividades, todas as emoções sentidas, expressas e contidas pelo veículo sagrado” (DEUS, 2010).


"àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória,  Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém” – Judas 1.24-25








[2] DEUS, Pérsio Ribeiro Gomes de, Um estudo da depressão em pastores protestantes , Mackenzie Fonte < http://www3.mackenzie.br/editora/index.php/cr/article/view/1134/849> , in 13/03/2012; p. 189-202


Comentários

  1. Caro Pr. Afonso,

    Triste, mas um excelente alerta.
    A bíblia nos manda orar uns pelos outros e o apóstolo Paulo, orava e pedia orações por sua vida. Acredito que o maior reflexo da nossa falta de oração por nossos pastores está relatada em seu artigo. Hoje nosso check list de oração está muito voltado para o eu e as minhas necessidades, isto quando se ora. A liderança da igreja deve voltar ao primeiro amor, onde o crente orava, intercedia por aqueles que se dispuseram a pastorear, cuidar das ovelhas de Cristo. Os pastores precisam ser adotados em oração pela igreja, com franqueza e coração aberto cumprir a missão de orar uns pelos outros. Abraços.....

    Saudade de vocês. Edite Colaço

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  2. Edite... você é muito querida, eu, Tati, Samuel, Pedro e Rebeca, amamos você!

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  3. Caro Rev. Afonso, achei muito pertinente a reflexão do irmão. Comecei o mestrado em aconselhamento e se Deus quiser quero falar sobre "Burnout" na vida dos ministros.
    Forte Abraço! Deus abençoe mais e mais...

    Rev. Antonio Dias

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  4. Caro Pastor, essas verdades vem de longe. Eu tenho a certeza de que os Presbitérios deveriam cuidar diretamente de toda questão pastoral e não a Igreaja local. Imagina a situação de um presbítero, que não tem formação e pouco de experiência espiritual, que vive dia-a-dia no meio distante das questões profundas da Igreja, ter tamanha responsabilidade e definir a vida do pastor. Ele tem o poder de admitir e demitir e torna-se um fiscal,um patrão cruel caso o pastor não corresponda às suas expectativas. O presbítero é auxiliar, ovelha, patrão etc. O bom presbítero deve sofrer com tais responsabilidades, o mau aproveita das mesmas. O pastor não tem segurança para a sua família e carrega o peso do fracasso todo. Ou ele produz ou produz. Acredito que está na hora de mudança séria, infelizmente a classe pastoral é individualista e não uma classe. Meu filho e um jovem pastor e sofre preconceitos por não ser casado e por ser novo. Pastores experientes agem assim. Com isso, ele se vê pressionado a se casar, candidatas não faltam e o mesmo pode casar por pressão e errar nessa escolha. Mais tarde, os mesmo queo pressionaram, vão pressionar de novo quando vier um divórcio e ele enfrentará de novo o preconceito e a rejeição. Pobre Igreja que está com o LIVRO aberto e os olhos fechados. Abraço irmão. Deus o abençoe. Tire folga. Descansa e creio que Deus é a única esperança para nós. Que bom por isso, nEle devemos descansar e na rede também...rs.. abraço.

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    1. Querido pastor gostei muito do seu comentário, fui pastor solteiro por um ano a pressão foi muita por parte de colegas e até mesmo da igreja, hoje me encontro bem casado. A conselho a todos os pastores solteiros a se dedicarem muito a oração,viajem o quanto puder, e busque em Deus uma esposa que ame a Deus e seja simples e humilde.

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  5. Presb. Ruthe M. Oliveira17 de março de 2012 às 09:24

    A mordomia do tempo é um caso sério na vida dos pastores. É preciso tempo para a igreja, para a familia, para o descanso, para o estudo, para a oraçao, para a esposa, para as visitas pastorais...para...para....e pode chegar uma hora que o pastor pára mesmo... Penso que pode ser pecado uma grande maioria dos crentes achar que pastor é super-homem, e o próprio pastor também pensar que é insubstituível...ou o pastor querer vender uma imagem assim...Ter a humildade pra reconhecer as próprias limitações é um grande trunfo na cabeça de um pastor...e também que ele não é o dono da Igreja, que tem que fazer o impossível por ela...ninguém de nós pode fazer o impossível, este pertence a Deus... Faça o pastor a sua parte e Deus cuida da Dele.

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  6. Presb. Ruthe M. Oliveira17 de março de 2012 às 09:27

    A mordomia do tempo é um caso sério na vida dos pastores. É preciso tempo para a igreja, para a familia, para o descanso, para o estudo, para a oraçao, para a esposa, para as visitas pastorais...para...para....e pode chegar uma hora que o pastor pára mesmo... Penso que pode ser pecado uma grande maioria dos crentes achar que pastor é super-homem, e o próprio pastor também pensar que é insubstituível...ou o pastor querer vender uma imagem assim...Ter a humildade pra reconhecer as próprias limitações é um grande trunfo na cabeça de um pastor...e também que ele não é o dono da Igreja, que tem que fazer o impossível por ela...ninguém de nós pode fazer o impossível, este pertence a Deus... Faça o pastor a sua parte e Deus cuida da Dele.

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  7. Foram quatro perguntas bem pertinentes:

    Por que aqueles que levam a Palavra da Cura estão doentes?
    Porque cuidam de igrejas doentes, presbitérios contaminados, , igrejas que se deixam levar pela emoções, corrida desenfreiada para ter igrejas lotadas e grandes, como sinal de poder, mas com pessoas vazias e louvores pobres. Os verdadeiros pastores estão ficando estressados por tentar não deixar se contaminar e pregar o verdadeiro evangelho e não aquilo que os membros querem ouvir! Pastores se estressam por assumirem muitos compromissos perante as autarquias de suas denominações! Se estressam pela desvalorização pessoal, financeiro, familiar, espiritual e vocacional! Pastores descobriram o medo depois que ficaram a merce e refem de conselhos e julgamentos humanos e se esqueceram de viver na dependência total de Deus!!

    Pastores também precisam de cuidados pastorais?
    Sim! Precisam de ajuda mútua, afinal é na bíblia que aprendemos a andar de dois em dois para que se um cair outro o levante!

    Precisam cuidar de sua saúde com profissionais da saúde?
    Sim, Deus acampa os anjos em volta dos seus e dentre esses anjos são os profissionais da saúde, pessoas levantadas por Deus para cuidar uns dos outros!

    Por que o medo de consultar psiquiatras e psicólogos?
    Pelo medo da exposição ou por medo de assumir as verdadeiras fraquesas diante das pessoas

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  8. Querido Cleber, nossa IPB possui ainda mecanismos que valorizam e ajudam os pastores a se cuidarem, ainda que tenhamos problemas também. Agora fico imaginando aquele pastor de outra denominação, que não tem a estrutura nem o conhecimento teologico pra lidar com suas próprias crises. O que fazer deste? Oração e compaixão!

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  9. PARABÉNS PELA INICIATIVA E PELO COMENTÁRIO! ACREDITO QUE SE FAZ NECESSÁRIO TAMBÉM TRABALHAR O TEMA COM FOCO NA ESPOSA E NOS FILHOS DOS OBREIROS...MAIS COBRADOS E MAIS PRESSIONADOS, ALÉM DE RECEBER A CARGA QUE O PRÓPRIO PASTOR ENFRENTA. VOU ESPERAR POSTAGEM AQUI.

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  10. Caro Celso saudações. (permita-me chamá-lo diretamente pelo nome, com todo respeito ao querido amigo)
    Confesso que trago no peito saudades do irmão. Sempre oro por você quando me deparo com seu blog ou quando recebo algum e-mail informativo e muito me alegro por vê-lo tão dinâmico e atuante.

    O que dizer sobre o pastor não poder adoecer fisicamente, e ainda pior se for emocionalmente ou "psiquiatricamamente"...

    Quando o pastor precisa ser afastado tem como se sustentar e acaba abandonado pela igreja, presbitério, etc... Não quero aqui entrar nos problemas referentes a recolhimento de INSS, etc...

    há casos em que o pastor termina doente e exonerado pelo seu presbitério.

    Esta reflexão tem sido levantada por alguns desde a nossa época de seminário e termina de alguma forma sendo sufocada. Muitos colegas tratam a questão de doença pastoral como fraqueza, moleza,etc...

    Espero em Deus que este assunto seja não só debatido, mas que produza mudanças..

    Um grande abraço.

    Valdeli

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  11. Infelizmente, dentre tantas outras realidades que me entristecem, uma delas é essa: AMIGOS NO SEMINÁRIO - ADVERSÁRIOS NO MINISTÉRIO. Triste e dura realidade.

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    1. Verdade Mauro. Perdemos aquela chama fraternal de amizades construídas no tempo de seminário, que nos tornava mais humanos, assim que assumimos as responsabilidades do campo, muitas vezes. Por que será? Um bom tema para refletirmos...

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  12. Excelente artigo e reflexão. Por demais pertinente. Deus tenha misericórdia de nós ministros e nossas famílias. Deus os abençoe!!

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  13. Graça e Paz.

    Essas são verdades o artigo é pertinente aos acontecimentos e fatos ocorridos nesses últimos tempos, inclusive o suicídio de pastores.

    Penso que a causa maior é falta de mentoria pastoral e um maior cuidado da igreja para com o seu pastor.

    Fala-se muito no cuidado Missionário e sua família bem como no cuidado pastoral. porém, só no papel e ou na teoria.

    Quando o pastor e ou missionário fica sem ministério ou campo de trabalho, quase todos os colegas viram às costas, às igrejas não lhes convidam para algum serviço, não procuram saber de suas dificuldades financeiras, familiares e emocionais. É preciso sim, um acompanhamento psicológico e psicopedagógico de todos os obreiros envolvidos em quaisquer ministério.

    O Pastor geralmente fica só ou e abandonado , em suas crises e dificuldades, porque as igrejas não se preocupem com a vida do pastor da sua família, e os que dizem serem nossos colegas pastores , esses somem de medo que o precisam de ajudar o pastor talvez financeiramente e mas fácil eles concordarem com membros de igrejas falsos e traíras , mas se quer fazem uma ligação pra saber como esta aquele que muitas vezes junto mais de vinte anos, mas em sua dificuldade eles não querem nem saber de você somem. Aparecem qdo escutam noticias como o pastor fulano se suicidou eram bonzinho o que aconteceu e a conversa desse amigos falsos que os pastores durante o seu ministério tem.. Não querem saber essa e a verdade.

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