NÃO EXISTE FAMÍLIA PERFEITA!
NÃO EXISTE FAMÍLIA PERFEITA!
Rev. Afonso Celso de Oliveira
Em nosso último artigo, defendemos
a definição do conceito bíblico sobre família. Tenho lido argumentos − até de pessoas que se dizem
crentes – defendendo que pessoas
homossexuais, que se unem em relações civis e buscam adotar crianças para
constituir algum tipo de “família”, podem oferecer um “lar”, talvez até melhor
que muitos ditos lares cristãos, com mais amor, tolerância, carinho, sem
violência (de todos os tipos, incluindo abusos sexuais, o que é grave), sem
autoritarismo, etc. Com esse apelo, aparentemente razoável, de uma família
alternativa, em nome de uma suposta harmonia, apontando a crise e os defeitos
da família tradicional no formato da cultura judaico-cristã, o argumento quer
convencer que é melhor ter um “lar” com amor, do que um lar que gere conflitos
e problemas. Mas será que é assim mesmo? Existem famílias perfeitas?
Não existe família perfeita. Esta
é a realidade! Nunca existiu, desde a queda de nossos primeiros pais (cf. Gn 3).
O que me encanta, entre tantas outras coisas fascinantes na Palavra de Deus, é
a sua veracidade e realismo em retratar com fidelidade os personagens bíblicos
sem esconder seus defeitos, dilemas, conflitos e dramas pessoais e
interpessoais.
A
primeira família registrada nas Escrituras é a de Adão (cf. Gn 4). Eles começaram mal. O primeiro
assassinato ocorreu em um drama familiar. Motivado por inveja, motivo torpe,
Caim assassinou o próprio irmão. Apesar de ser previamente alertado por Deus (Gn
4.6,7), Caim optou por dar ouvidos a sua índole má (Gn 6.8). Após a morte de
Abel, Deus em sua graça deu ao casal um novo filho (Gn 4.25,26) – Sete – através do qual providenciou a
continuidade da descendência humana, de onde viria a “semente” prometida em
Gênesis 3.15.
Em
Gênesis 6 a 9, encontramos a família de Noé. Noé e Enoque (Gn 5.22; 6.9) foram os únicos
personagens citados no livro de Gênesis que o narrador diz que“andavam com Deus”, atestando assim a
integridade moral e espiritual deles. Contudo, Noé, ao descer da Arca,
embriagou-se com vinho (Gn 9.20) e colocou-se em uma situação de
constrangimento de fraqueza devido a seu estado ébrio (Gn 9.21). Cam, um de seus
filhos, aproveita-se do estado de descontrole de seu pai e abusa moral e
sexualmente do próprio pai (segundo o entendimento de vários intérpretes de
renome do Antigo Testamento), e faz mais, revela esse estado de indecência
moral aos outros dois irmãos (Gn 9.21). Sem e Jafé tomam atitude contrária à de
Cam, e respeitosamente cobrem a nudez do pai (Gn 9.22).
A
família do grande patriarca Abraão também teve seus momentos de fraquezas. O próprio Abraão fraqueja
diante da personalidade dominante de Sara, aceita sugestões para coabitar com a
escrava Hagar (Gn 16). Diz uma meia verdade, que é pior que uma mentira
inteira, quando afirma ao Rei Abimeleque que Sara é sua irmã e omite que ela é
sua esposa (cf. Gn 20). Isaque, filho de Abraão, deixa-se trair pelos sentidos
(cf. Gn 27), e prefere o promiscuo Esaú, não dando ouvidos ao oráculo de Deus
dado a Rebeca (Gn 23.25) de que “o menor
dominaria sobre o maior”, ainda que Jacó também não aparentasse ser grande
coisa. A família de Isaque parece ser um caos.
O
lar de Jacó não é o exemplo de família que queremos ter. Ele ama uma mulher com paixão
exageradamente sensual (cf. Gn 29.18-20), a ponto de se dar por ela e tornar-se
escravo de seu sogro por sete anos, um dote muito maior que o padrão da cultura
da época. Ele sofre as dores de uma paixão lasciva, não de um amor verdadeiramente
ágape. Após a noite de núpcias, descobre que fora enganado, e é tomado de ira
incontrolável, e procura seu sogro Labão para tirar satisfação (cf. Gn 29.21-25).
Seu sogro lhe promete dar Raquel, desde que ele trabalhe mais sete anos (Gn 29.26).
Ele prontamente aceita, dominado que está pelo desejo de possuir aquela bela
mulher (Gn 29.28). As relações poligâmicas de Jacó levam-no a ter doze filhos
homens, e estes crescem em meio às preferências indisfarçáveis de seu pai pelos
filhos de Rebeca − José e Benjamim − e as disputas das mulheres
pela atenção de Jacó (Gn 29.31-34; 30. 1-25; 37). A família de Jacó é um
exemplo típico de uma família desunida.
Mas é justamente nessas
famílias, que usamos como exemplos, que Deus, em sua infinita graça e
misericórdia, trabalhou. Deus as usou para a preparação do caminho do Senhor, e
delas veio o Messias, o Cristo de Deus. Jesus é o fim, o propósito, o alvo de
Deus, o modelo a seguir, o exemplo de perfeição humana. Além de tudo isso,
Jesus Cristo é a solução, a redenção da família, a bênção prometida a Abraão: “Em ti serão benditas todas as famílias da
terra”. Em outras palavras, era como se Deus tivesse dito: “Abraão, no pacto que faço contigo, o
Cordeiro que virá retirará o pecado do mundo e substituirá o pecado do meu
povo, com base na fé objetiva em sua obra. Serão benditas as famílias que
apoiarem sua fé nesta confiança do pacto que hoje faço contigo, no Messias, no
Cristo de Deus, do Deus de Abraão”.
Existem outras famílias na
Bíblia que também tiveram seus dilemas: Moisés, Arão, Davi, Salomão, e outras.
O que elas têm em comum? Duas coisas pelo menos. Primeiro, nenhuma delas era
perfeita, todas tinham defeitos, problemas, conflitos. Segundo, todas possuíam
as promessas, tinham a mesma fé, pertenciam à mesma Aliança, e esperavam o
mesmo Redentor, que é Cristo.
Portanto, concluímos que o
fato de famílias tradicionais, no formato judaico-cristão, homem e mulher,
terem defeitos, conflitos e problemas não valida de forma alguma a tentativa de
buscar um modelo de família alternativa como caminho mais suave para justificar
a união homoafetiva como modelo de família exemplar. Os pecados da família
tradicional cristã precisam ser tratados à luz da Palavra de Deus, aos pés da
Cruz de Cristo, olhando firmemente para Ele que é o autor e consumador de nossa
fé, e que é o maior interessado em regenerar, transformar, reconciliar e
perdoar a toda a família. Bem disse o apóstolo Paulo: “Crê no Senhor Jesus e será salvo, tu e a tua casa [família]” (At
16.31).
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